O dia 25 de março será uma data de extrema felicidade para os integrantes da Diocese de Mogi das Cruzes e da Arquidiocese de Fortaleza (CE). A partir das 19h30, no salão do Clube Náutico Mogiano, o monsenhor Rosalvo Cordeiro de Lima, de 49 anos, será ordenado bispo-auxiliar de Fortaleza (CE), escolhido pelo papa Bento XVI.
A nomeação é recebida com muita alegria na região, já que marca também acontecimentos históricos, como o dia em que o primeiro padre da Diocese de Mogi se tornará bispo, além do encontro de outras autoridades religiosas marcantes na história católica da região, como o primeiro bispo de Mogi, dom Emílio Pignoli, hoje arcebispo Metropolitano de Fortaleza, e dom Paulo Mascarenhas Roxo, bispo emérito de Mogi das Cruzes.
Lima nasceu em União dos Palmares, em Alagoas, cidade com cerca de 60 mil habitantes, polo da região da zona da mata alagoana, também considerada um das principais do Estado, por ser conhecida como a "Terra da Liberdade". Foi nela, na Serra da Barriga, que foi dado o primeiro grito de liberdade, por Zumbi dos Palmares.
Lima veio de uma família humilde, com pai agricultor, mãe dona de casa e muitos irmãos. Teve o despertar para a vida religiosa após a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil. Pelo histórico, também é o primeiro bispo natural de União dos Palmares. Mas só permaneceu na cidade nordestina até os 18 anos de idade. Depois, veio para Mogi das Cruzes continuar sua preparação para o sacerdócio. Aqui, ele integrou a primeira turma da Casa Vocacional, implantada em 1984 por dom Emílio, antes do surgimento do Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI, e não saiu mais. Trabalhou em Mogi, Arujá (onde foi ordenado padre), Itaquaquecetuba e Salesópolis.
Foi neste último município que dedicou 14 anos de sua vida como pároco da Igreja Matriz São José Operário. Apaixonou-se pela cidade de 15,6 mil habitantes com jeitinho tradicional de interior. E dela se despede no próximo dia 27 de março, quando celebrará sua primeira missa como bispo. Mas não é um "adeus", mas um "até logo". A paixão pela cidade foi tanta, que parte da família continua por aqui. Irmãos e sobrinhos serão uma desculpa para Lima visitar a cidade, matar a saudade da região e contar como está a caminhada religiosa no Nordeste.
Mogi News: Até ser empossado bispo, o senhor ganhou o título de monsenhor. O que muda exatamente?
Rosalvo Cordeiro de Lima: O monsenhor é apenas um título. Não existe uma autoridade canônica maior que a de qualquer padre. Os padres sagrados bispos recebem automaticamente este título. Depois da ordenação, passa a ser chamado de dom.
MN: Como é o processo de escolha antes da nomeação?
Lima: Só ficamos sabendo quando o processo já está praticamente concluído. Mas, no geral, todo bispo diocesano tem o direito de indicar à Nunciatura Apostólica alguns nomes de padres que poderiam ser bispos. Estes nomes são pesquisados dentro da Igreja, que levanta toda a vida do candidato. Então, um relatório com tudo sobre a história destes candidatos chega à mesa do papa no Vaticano. Ele analisa e escolhe aquele que julgar preparado.
MN: Quando o senhor ficou sabendo?
Lima: Primeiramente, somos chamados pela Nunciatura Apostólica, que fica na Embaixada do Vaticano no Brasil, em Brasília. Eles me ligaram dizendo que queriam conversar comigo e, no dia 19 de janeiro, eu fui para a reunião. Na hora, foi um espanto, porque eu não esperava, mas se Deus chama, a gente tem de responder ao chamado da Igreja. Para o santo padre, o papa, nós não podemos dizer não. Até porque, na ordenação sacerdotal, nós fazemos este juramento de fidelidade à Igreja.
MN: Sua vida religiosa começou no Nordeste?
Lima: Tive uma experiência inicial no Seminário de Maceió, em 1983. Em julho deste mesmo ano, minha mãe, Rosa David da Silva, mudou-se para Mogi para morar com a minha irmã Roselita Cordeiro de Lima. Em dezembro de 1983, eu vim visitá-las durante as férias e procurei o bispo, na época do dom Emílio Pignoli, que me convenceu a permanecer aqui.
MN: Houve alguma influência que te fez descobrir este dom?
Lima: Minhas influências foram os encontros vocacionais que fiz e a primeira visita do papa João Paulo II, em abril de 1980, quando ele passou por Fortaleza. Só vi pela televisão, mas fiquei apaixonado. Eu não tinha ainda aquela consciência clara do que poderia vir pela frente, era um jovem de 16 anos. Depois da visita, tive um sonho com o papa. Eu já tinha uma vida na igreja, desde criança. Minha mãe me levava às missas. Sempre quis servir a igreja, mas eu não sabia como.
MN: E como foi este sonho com o papa?
Lima: Tive uma espécie de revelação, se posso chamar assim. Foi um diálogo, já que eu não pude ir vê-lo pessoalmente. No dia em que ele veio, eu estava trabalhando em uma oficina e ele estava em Recife (PE). Dialogamos um pouco em sonho. Depois disso, foi despertando esse chamado.
MN: Mas o início da sua vida episcopal foi em Mogi?
Lima: Acabei aceitando o convite de continuar esta preparação para o sacerdócio aqui na Diocese de Mogi. Na época, ainda não tinha o Tabor. Inicialmente, foi em Brás Cubas, na Casa Vocacional, implantada pelo dom Emílio em 1984. Éramos oito alunos, fomos os primeiros da turma.
MN: Como a sua família recebeu a notícia de que o senhor seria padre?
Lima: A minha família inicialmente não acreditava muito, porque eu era muito jovem quando decidi, mas ficaram orgulhosos quando recebi a ordenação de padre em Arujá, no dia 1º de novembro de 1992, pelo bispo dom Paulo Mascarenhas Roxo, me tornando um dos primeiros padres ordenados pela Diocese de Mogi.
MN: Por quais igrejas da região o senhor passou?
Lima: Tive uma experiência em Mogi das Cruzes, na Paróquia Santo Antônio, no Mogi Moderno. Foi o início da caminhada. Depois, fiz um estágio pastoral em Itaquá, na Paróquia Nossa Senhora D´Ajuda, durante três anos. Depois, fiquei por mais dois anos em Arujá, na Paróquia Bom Jesus. Fui ordenado padre em Arujá. Aí, voltei para Itaquá, na Paróquia Cristo Redentor do Homem, no Caiubi, onde fiquei por cinco anos. Depois, fui transferido para Salesópolis, onde estou há 14 anos. Também fui diretor da Pastoral da Vocação na Diocese.
MN: Quando o senhor vai celebrar a última missa em Salesópolis?
Lima: No dia 27 de março, devo celebrar aqui a minha primeira missa como bispo e minha última na cidade. Não gosto da palavra despedida, mas será um "até logo". Será o último momento aqui e o primeiro como bispo.
Fonte: Mogi News
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